quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Enquanto polícia investiga, família de adolescente morto sofre


Rogério Giessel - rogeriogiessel@hotmail.com




O cinza das velhas tabuas sem pintura que compõe a humilde casa da família do menino Silvio Amaral da Silva Junior, 13 anos, que no domingo, dia 24, foi atropelado e morto por Ricardo Guedes de Melo, parece também demonstrar a atual situação de seus moradores, que sofrem intensamente a dor causada pela perda do filho. Agora, segundo o pai do adolescente, o padeiro Silvio Amaral da Silva, 40 anos, uma angustia também invade e potencializa o sofrimento. É a sensação de impunidade que aparentam estar prevalecendo.





Silva tem razão. De acordo com o delegado responsável pelo caso, Laurito Akira Sato, da Delegacia de Trânsito de Joinville, já foram ouvidas 13 pessoas e ainda faltam quatro depoimentos para serem tomados. Outras testemunhas indicadas pelo pai do menino também deverão ser intimadas. Além disso, Akira aguarda o laudo pericial que indicará a velocidade desenvolvida pelo carro dirigido por Ricardo no momento do atropelamento. “Tudo isso para que eu possa começar a analisar o inquérito”, afirmou o delegado. Uma fonte que prefere não se identificar, informou que um posto de combustível localizado na rua Florianópolis, possuía imagens de suas câmeras de segurança onde Ricardo Guedes de Melo, aparecia ingerindo bebidas alcoólicas instantes antes do atropelamento. O proprietário do posto, Robson Alaor, nega que o estabelecimento tenha as imagens e disse que o posto naquele domingo fechou por volta da 20 horas. “O pai do menino esteve aqui e eu disponibilizei as imagens que eu tinha e não havia registro da presença do rapaz que ele procurava.”, finalizou Robson. Porém, Silvio Amaral, confirma que foi até o local em busca de informações, mas alega que nenhuma imagem foi mostrada a ele. Por outro lado, o delegado Akira relatou que já tinha conhecimento da possível gravação feita pelas câmeras e irá verificar. No entanto, Akira explicou que o fato não altera em nada a situação. “Mesmo que ele estivesse embriagado, não foi feito o bafômetro. Mesmo que tenha 20 pessoas que digam que ele estava bêbado, nós não temos mais como aferir a embriagues dele para agravar a pena.” Sobre o andamento do inquérito, o policial informou que o motorista possui dois agravantes iniciais. O primeiro é o de estar conduzindo um veículo sem a devida habilitação, e o segundo, é a atitude tomada por Ricardo, que se evadiu do local sem prestar socorro a vitima. “Se ele for responder pelo homicídio culposo (Sem a intenção de matar) será agravado pelos artigos 309 (dirigir sem habilitação) e 305 (evasão do local), do Código de Trânsito Brasileiro (CTB)”. Outra hipótese admitida é a de indiciamento por homicídio doloso (Com a intenção de matar). Nesse caso, Ricardo poderá ser enquadrado no artigo 309 combinado com o 305, o que faz com que o acusado vá a júri, além de ter a pena aumentada para cerca de oito anos se for condenado. Entretanto, o delegado preocupa-se com uma inevitável absolvição devido à fragilidade das provas que indiquem o homicídio doloso, ficando assim, o acusado impune. “Para que isso não aconteça, eu não posso deixar dúvida. Vou interrogar novamente o acusado e ouvir novas testemunhas. Mas, eu não tenho dúvida que vou optar pelo homicídio culposo para que ele não fique impune.”, argumentou Akira.

O último beijo no filho

“O último beijo quem deu nele fui eu”, conta emocionado o pai. Silvio relembra que naquele dia seu filho não saiu de casa durante todo o dia. “Ele ficou brincando com o irmão menor”. Às 19h15, horário em que Silvio Amaral costuma sair de casa para trabalhar, foi abordado pelo filho que disse que acompanharia o pai até uma panificadora próxima de sua casa. “Ele comprou um pacote de leite e bolachas e perguntou se eu precisava de dinheiro. Achei graça na pergunta e dei um beijo na cabeça dele. Foi a última vez que vi meu filho com vida”, descreveu Silvio.
Café com leite, assim Silvio Junior era chamado carinhosamente pelos pais e irmãos. O apelido surgiu devido ao habito de Junior, que ao chegar da escola, imediatamente tomava uma xícara de café com leite, “Ele chegava da escola, botava a pastinha no canto da porta e ia direto para o cafezinho com leite”, recordou ainda Silvio Amaral. A dona de casa Sonia Silva, 45 anos, mãe do menino ainda chora muito e só fala no filho. Em uma tentativa de amenizar a dor da mãe, a filha mais velha trouxe a neta de Sonia, um bebê com menos de um ano de idade para confortar a mãe. O pai de Junior finaliza demonstrando sua decepção com a forma que estão tratando o caso, “Eu penso que nesses casos não existe lei. O carro desse motorista sequer foi apreendido para perícia”, concluiu.

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