sábado, 12 de fevereiro de 2011

Lama invade casa de moradores no bairro Santa Catarina

Morador Miguel Gonçalves olha para o loteamento aos fundos de seu terreno. foto: Eberson Teodoro

RENATO CÉSAR RIBEIRO
renato@gazetadejoinville.com.br

Um grupo de moradores de cerca de 40 residências no bairro Santa Catarina estão sofrendo com muita lama. A região que não sofria com problemas de alagamentos até pouco tempo atrás, agora é surpreendida por verdadeiros córregos de terra nos encanamentos e até mesmo destruindo paredes. De acordo com vários deles, a causa do problema é a construção de um novo loteamento.

A associação de moradores Santa Rita, que cobre a região que fica entre os bairros Santa Catarina e Floresta, realizou uma reunião na semana passada em que estiveram presentes também representantes da Irineu Imóveis, responsável pelo loteamento em questão.

Um dos membros da associação de moradores, Nicodemos Neto da Costa Lima, 57 anos, afirma que foram feitas obras inadequadas. "Tamparam as nascentes do rio Bucarein. Com a chuva, formou-se uma lagoa enorme lá em cima", afirma. A lama que caiu derrubou muros, o que antes parava na barragem natural do ecossistema. "O rio Bucarein já estava cheio. Aqui, destruiu tudo... carro... tudo", diz.

O soldador Miguel Gonçalves, 57 anos, teve a parede de trás de seu terreno, na rua São Martinho, derrubada pela lama que desceu do loteamento. "Moro há 32 anos aqui e nunca alagou. Isso está acontecendo depois que fizeram esse loteamento", conta. Antigamente, havia somente mato atrás da casa dele, com vários tipos de árvores. Agora, resta apenas um espaço cheio de lama.

"Era só pasto, só vinha água limpa. Esse tubo que tenho aguentava tudo", relata. Ele teve grande prejuízo com o problema. Perdeu móveis, carro, parede, além de uma horta onde tinha algum cultivo. "Um pedaço de muro foi parar lá na frente de casa na rua", aponta.

Com a ajuda de vizinhos, morador fez calha para tentar resolver, mas problema persiste. foto: Eberson Teodoro

Para não aumentar a situação, ele com a ajuda de vizinhos fizeram uma grande calha, reconstruiu parte do muro e colocou cerca de 30 cm de tijolos nas portas para a lama não voltar a entrar em casa. "Eles (da Irineu Imóveis) deram uma ajuda de custo, mas não dá nem para terminar o muro", cita.

Miguel informa que em dia de chuva precisa tapar os ralos da casa para a água com lama não entrar. O vizinho Daniel Pacheco, 36 anos, que atua com vendas, conta que da mureta de proteção feita, faltou apenas um tijolo para a água não invadir tudo de novo nas chuvas do domingo passado.

"Está descendo centenas de metros cúbicos de barro aqui. Já encheu de barro e água e está vindo tudo para cá. Cada chuva que dá é um problema. A gente corre um risco muito grande aqui. No dia que estourou o muro alguém podia ter morrido", denuncia Daniel. O encanamento está todo entupido devido à lama. Os moradores locais também reclamam das bocas de lobo tapadas que poderiam ajudar nos momentos mais urgentes.

Janett de Castro da Cunha teve grandes sustos por causa do problema. "Isso aqui estourou tudo. Fez um chafariz aqui (apontando para o chão). Daí fica essa lamaceira toda", reclama. Seu marido, Deonésio Neide Cunha, estava tentando fechar com cimento um tubo quando a reportagem passou pela casa.

"Ele está fechando para tentar amenizar. Isso nunca aconteceu, esse problema. Se não tivesse a mureta de proteção, tinha entrado em tudo aqui", disse Janett.

Janett tira lama de sua casa. foto: Eberson Teodoro

Coordenador de Seinfra foi chamado pelos moradores

Paulo Frank, coordenador de drenagem da Secretaria de Infraestrutura (Seinfra), foi chamado pelos moradores no local para fazer uma avaliação do que pode ser feito para resolver o problema. "Enquanto for responsabilidade do loteamento, a imobiliária tem que resolver. Podemos colocar tubo aqui, mas é só paliativo", averiguou.

Para Paulo, a solução é fazer uma drenagem no terreno. "Eles estavam fazendo uma barreira de barro, mas vem a água e leva o barro tudo de novo. O problema aqui não é simples, é muito grave", disse aos moradores.

Ele informou que é necessário um estudo mais aprofundado para ver o que se pode fazer. Paulo estava coletando informações para uma reunião com o secretário de infraestrutura Ariel Pizzolati, o secretário regional do Boehmerwald e com representantes da Irineu Imóveis para analisar a situação. Morador local, o secretário regional do Itaum, Manoel de Medeiros Machado, quer participar desse encontro também.

Manoel informa que o loteamente tem notificações desde 2009. "Já deu o mesmo problema do lado de lá", diz se referindo ao lado oposto da obra.

Obra do loteamento está parada devido a problemas com documentação. foto: Eberson Teodoro

Falta documentos e obra fica parada

Pela Irineu Imóveis, Dorvalino respondeu que essa é uma situação bem difícil. Ele cita que o volume de água que desce é grande e o que falta é uma limpeza do encanamento por parte da prefeitura. "O que foi feito lá anos atrás é insuficiente. A tubulação é pequena e está assoreada", disse. A Irineu Imóveis deu 30 tubos de 40 centímetros de diâmetro aos moradores.

Dorvalino diz que se propôs a colocar uma retroescavadeira quando a prefeitura usar o hidrojato para "fazermos uma parceria até achar uma solução". "Quando foi feito o loteamento, foi tirada a vegetação. Agora não conseguimos concluir porque a prefeitura faz muitas exigências e cada hora pede um documento diferente", afirma.

Segundo ele, a prefeitura fica exigindo novos documentos e, por isso, não pode continuar. Os moradores comentaram que a obra estava embargada, mas Dorvalino não gosta de utilizar essa expressão. "Falamos com o vice-prefeito para discutir para que haja uma solução, para conduzir as águas pela tubulação. Não foi feita drenagem", aponta.

O representante da Irineu Imóveis se defende dizendo que não está fazendo nada fora da lei. "A obra não foi concluída por falta de documentos. Começaram a mudar as coisas, pediram novos documentos. Até a rede elétrica tivemos que mudar. É apenas uma questão documental para entrarmos em acordo com a prefeitura. Não quero fazer críticas", apontou.




Sobre as nascentes do rio Bucarein, ele disse que não saberia dizer onde ela nasce. "É preciso um estudo para isso", alegou. Para ter a questão resolvida, Dorvalino citou que primeiramente era preciso acelerar uma drenagem para conduzir a água por dentro dos tubos. "Paralelo a isso, fazer o dessassoreamento dos tubos que estão lá", afirmou.

"Nós não podemos abrir as ruas e mexer nos tubos. Isso é a prefeitura quem faz. Somos parceiros para ajudar. Estamos esperando a prefeitura chamar", apontou. Dorvalino conversou com uma engenheira do governo municipal que teria comentado da necessidade de um estudo para o problema. "Acredito que isso está acabando. Quando limpar a rede da rua tenho certeza que isso não vai mais acontecer", complementa. É esperar para ver.

O secretário regional do Boehmerwald, responsável pela área, Paulo Roberto Rodrigues estava em reunião durante toda a tarde de sexta-feira quando a reportagem entrou em contato.

Um comentário:

Juan Guttierres Balletteros disse...

Tudo isso se deve à sanha pelo lucro fácil, destes loteadores sem escrúpulos. Onde está o Ministério Público de Joinville, para interceder pela comunidade e interditar definitivamente este ou qualquer outro loteamento, que qualifico como obra criminosa contra a natureza.