quinta-feira, 4 de setembro de 2008

"Os réus foram torturados por serem pobres"

Postado por: Rogério Giessel


Para jurista, a investigação de tortura contra presos precisa sair da alçada da Polícia, que é omissa na maioria dos casos

O recente episódio em que três rapazes de Guarulhos, São Paulo, foram injustamente presos pelo estupro e assassinato da jovem Vanessa Batista de Freitas, de 22 anos, em 2006, denuncia mais uma vez, segundo o jurista Luiz Flávio Gomes, doutor em Direito Penal pela Universidade de Madri e presidente da Rede de Ensino LFG, a inoperatidade da polícia em impedir a prática de tortura por parte de seus representantes. “O caso demonstra igualmente a desigualdade social que existe em nosso país. Os réus foram torturados por serem pobres. Nenhum deles poderia ter sido preso sem a culpa formada”, afirmou Gomes.

Para ele, a responsabilidade em investigar a tortura deve ficar a cargo do Ministério Público que, atualmente, recebe o inquérito da polícia e normalmente não aprofunda se houve agressão contra o suspeito. “Quem cuida disso é a própria polícia e sabemos que, quando existem excessos, poucos policiais delatam seus companheiros ou assumem a culpa frente a seus superiores”, comentou.

Retrato do mau funcionamento do Estado, de acordo com o jurista, a prisão dos três acusados deve agora ser corretamente reparada pelos órgãos públicos. “Será preciso indenizar esses jovens e também punir com o rigor da lei os atores da tortura”, contemplou. Para ele, a atitude do governador do Estado de São Paulo de exonerar os responsáveis foi bastante acertada e necessária.

“O Brasil tem um histórico de desrespeito às sentenças proferidas pela Corte Internacional de Direitos Humanos. São inúmeros os casos de tortura em prisões como a de Urso Branco, em Rondônia, onde presos sobrevivem em vez de cumprirem suas penas. Todos os presídios estão abaixo dos padrões internacionais de respeito aos direitos humanos”, finalizou Luiz Flávio Gomes.

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