O desabafo de Nilson Gonçalves

Emocionado, deputado nega envolvimento com “grupo do prefeito”

Em um desabafo de cerca de vinte minutos em seu programa televisivo “Tribuna do Povo”, da última quinta-feira (9), o deputado estadual Nilson Gonçalves (PSDB) negou ter recebido dinheiro do deputado Darci de Matos para quitar uma dívida na prefeitura, conforme denúncia do Ministério Público Eleitoral.

Ele admitiu que tinha uma dívida na prefeitura “de vinte e poucos mil reais que foi virando uma bola de neve e passou de mais de cem”. Em conversa com o deputado Darci de Matos (DEM) na Assembléia, Nilson teria comentado sobre o problema. Darci teria dito: “Fica tranqüilo, eu te arrumo aí, fica calmo. Eu to te falando que vou atrás de um dinheiro pra emprestar pra pagar a sua dívida. Nilsinho, fica tranqüilo, semana que vem vou te dar um retorno”.

Neste intervalo, o deputado Nilson Gonçalves teria conseguido empréstimo com um amigo seu em Florianópolis. Nilson chegou a mostrar um contrato de empréstimo datado de 2007 em seu programa de TV. “Ta aqui, ó [mostrando um contrato de empréstimo]. E esse contrato foi feito no final do ano passado. Ta aqui o contrato, ta aqui a assinatura do contrato aqui, ó. Ta tudo direitinho. Isso aqui não foi feito agora pra tentar ajeitar as coisas, não. É uma coisa que foi feita no dia 19 de novembro de 2007, um empréstimo que eu fiz junto a um amigo”.

Interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça e realizadas pela Deic revelaram que às 10h31 do dia 5/10/2007 Darci teria enviado uma mensagem de texto ao celular de Norival com o seguinte conteúdo: "O Dep Nilson deve 55 mil na prefeitura o tebalde ajudou um pouco e parou esta meio chateado. O Dep falou comigo. E muito importante para o nosso projeto Debito ate dia 20.12. Talvez uns 2 ou 3 fornecedores da saúde. Resolvemos e depois informamos o Tebaldi"

Mostrando as capas de todos os jornais, o deputado chegou a chorar diante das câmeras, afirmando sua idoneidade e dizendo não fazer parte do grupo do prefeito. Ele também admitiu que pensava sair do partido.

Acompanhe na íntegra o desabafo de Nilson Gonçalves no programa Tribuna do Povo

Eu ainda há pouco conversei com vocês e quase que não consegui terminar no rádio sobre esse verdadeiro tsunâmi que ta passando por cima da minha vida aqui. Talvez eu esteja vivendo esta semana os piores momentos da minha vida... De toda a minha vida pública.

De todos os momentos difíceis que eu já vivi na minha vida pública talvez esta semana tenha sido a pior semana de todas. Primeiro pelas pressões que eu tenho recebido de figuras importantes a nível nacional e a nível estadual pra mim apoiar “A” ou “B” aqui no município, especialmente apoiar o candidato da coligação DEM/PSDB. Como eu sou da sigla do PSDB, há uma pressão muito grande para que eu fosse participar da campanha desse segundo turno por essa sigla.

Vieram conversar comigo pessoas dos mais variáveis níveis dentro da política, e eu quero fazer questão de esclarecer uma coisa e deixar muito clara: Foi comentado aqui em Joinville que eleitores meus e freqüentadores da Casa Amarela. Ouvintes do rádio e telespectadores estariam indo na Casa Amarela fazendo apelo pra que eu fosse trabalhar para o candidato Darci de Matos no segundo turno. Quem falou isso tem uma grande imaginação, uma grande imaginação e é fruto da sua imaginação. Quem falou isso só pode estar delirando porque na Casa Amarela não foi uma única pessoa pedir pra mim fazer isso ou fazer aquilo. Recebi sim um único e-mail de uma pessoa dizendo que sempre votou em mim e pedindo para eu trabalhar para o Darci de Matos e eu fui procurar saber, era uma candidata a vereadora de um bairro aqui que fez 500 votos e que trabalhou na campanha do Darci no primeiro turno. Então fiquei tranqüilo e sossegado porque é uma pessoa que está comprometida com um dos segmentos. Então eu queria deixar isso bem claro.

A outra questão é essas coisas todas que eu vi nos jornais hoje: “Juiz pede prisão para ex-secretário Norival Silva”, né, saiu aqui no jornal Noticias do Dia. Nós temos aqui na Gazeta de Joinville: “Escuta policial envolve Darci no escândalo da saúde”. Eu tenho aqui mais um do Diário Catarinense: “Grampo atinge a campanha no Norte”. Olha as três fotos, olha com quem eu estou nas três fotos? Olha só? Ó as quatro fotos? Tebaldi, Darci Nilson e Norival. Olha só a companhia que eu estou?

Dentro dessas matérias todas aí tem uma aqui que me deixou impressionado: “Denúncia do Ministério Público apresentada à Justiça em 30 de setembro aponta para uma suposta participação do candidato a prefeito Darci de Matos, do deputado estadual Nilson Gonçalves, do prefeito Marco Tebaldi e do ex-secretário da Saúde Norival Silva numa articulação que beneficiaria a candidatura de Darci de Matos”.

Quem lê isso aqui, quem vê isso aqui deve imaginar que eu faço parte desse grupo, que eu tô assim com essa turma que estamos armando. Quem me conhece sabe quantos anos que eu não faço parte desse grupo do PSDB aqui de Joinville. Quem me conhece sabe quanto tempo faz que eu não boto o pé no diretório do PSDB aqui de Joinville por não fazer parte desse grupo. Esse grupo do PSDB aqui de Joinville é o grupo do prefeito Tebaldi com o qual eu não tenho ligação nenhuma. As pessoas que me cercam sabem disso.

Esse Norival Silva eu não me lembro de ter parado algum dia na minha vida para conversar com ele. Conversei com ele há muitos anos atrás quando ele era candidato a deputado que foi uma vez. Só oi, como é que vai a campanha, de passagem. Nunca tive qualquer ligação com essa gente.

Fiz minhas campanhas políticas e posso dar exemplo, a campanha de 2006: eu era o candidato do PSDB a deputado estadual. Eu e o Mauricio Peixer e não tivemos ajuda nenhuma desse grupo que aí está do PSDB e nem do prefeito que tem um projeto político com o afilhado dele, que se chama Darci de Matos. Ele tem um projeto com o Darci de Matos, ele ajudou o Darci de Matos a ser vereador aqui em Joinville. Ele ajudou o Darci de Matos a ser presidente da Câmara de Vereadores aqui em Joinville, ele ajudou Darci de Matos e arregaçou as mãos [sic] pra fazer Darci de Matos deputado estadual e ele ta trabalhando para fazer Darci de Matos prefeito de Joinville.

Eu não participo, não faço parte deste grupo, nunca participei e nunca me sentei à mesa com eles pra qualquer tratativa, certo. Ah então, Nilson, por que é que você está envolvido nisso?

Por que é que te envolveram então Nilson? Porque o Darci eu conheço de longa data e eu sei muito bem separar as coisas. Político é uma coisa, amizade é outra. O Darci eu conheço desde quando chegou aqui em Joinville, simplisinho [sic]. Depois de muito tempo conseguiu trabalhar de assessor do José Carlos Vieira, simplisinho, bom de bola, menino bom... sempre me dei muito bem com ele e acabou virando deputado. Assim como sempre fui amigo do Kennedy Nunes. Me lembro do Kennedy Nunes andando com aqueles carrinhos velhos. Kennedy Nunes que também cresceu dentro da política e agora somos deputados lá na Assembléia Legislativa e lá conversamos. Converso com o Darci, converso com o Kennedy, converso com as pessoas que estão lá, principalmente com as aqueles aqui da minha região.

E daí Nilson e daí: E daí que eu tinha uma dívida na prefeitura e não nego pra ninguém, tinha uma dívida na prefeitura de vinte e poucos mil reais que foi virando uma bola de neve e passou de mais de cem. Passou de mais de cem mil reais e eu negociei esta dívida, eu acho, se não estou enganado em 60 vezes pra pagar essa dívida. Negociei lá e o meu carnê ficou lá. Era pra eu pegar o carnê... era pra me mandarem o carnê, o carnê não foi. Um dia eu fui lá na Prefeitura: Cadê meu carne? [Ah, não sei] Cadê meu carnê? Aí o rapaz andou em sala, trouxe meu carnê e eu levei meu carnê pra casa pra pagar minha conta.

Um mês e meio depois, um mês depois, a Câmara de Vereadores aprovou uma lei que dava 50% de desconto pra quem pagasse a vista os seus débitos junto a prefeitura. Quem tem microempresa, quem é empresário sabe do que eu estou falando. Eu fui lá e conversei: Poxa, vocês negociaram o negócio [sic] em sessenta meses, mas eu queria me habilitar pra pagar isso aqui. [Oh, você tem trinta dias pra resolver isso], então ta!

Tô lá na Assembléia, encontro o Darci, sentei com o Darci ali e falei: Eu vou ter que ir atrás de um empréstimo e vou pagar essa porcaria aqui e vou me livrar disso aí. Aí ele assim: Fica tranqüilo, eu te arrumo aí, fica calmo. Eu to te falando que vou atrás de um dinheiro pra emprestar pra pagar a minha dívida. Nilsinho, fica tranqüilo, semana que vem vou te dar um retorno. E eu: O Darci, pára né, Darci, a gente é amigo lá?

Nesse meio tempo, fui conversar com o Karam, que é um amigo há mais de trinta anos que eu tenho, aposentado do Banco do Brasil, eu sabia que sempre tinha as suas poupanças, sempre tem o seu dinheirinho e conversei com o Karam se ele podia resolver, se ele podia quebrar esse galho pra mim. E o Karam prontamente me quebrou esse galho e me emprestou o dinheiro que eu precisava e eu pedi que ele entrasse em contato com meu contador pra que fizesse isso normalmente legal, porque tem que entrar na empresa, tudo direitinho. E eu emprestei o dinheiro do Karam. Ta aqui, ó [mostrando um contrato de empréstimo]. E esse contrato foi feito no final do ano passado. Ta aqui o contrato, ta aqui a assinatura do contrato aqui, ó. Ta tudo direitinho. Isso aqui não foi feito agora pra tentar ajeitar as coisas, não. É uma coisa que foi feita no dia 19 de novembro de 2007, um empréstimo que eu fiz junto a um amigo. Ta aqui, ó! Ta aqui direitinho, legalizado, como manda a figura. Ta aqui o valor que eu emprestei dele.

Ah, o Nilson ta falando isso aí pra esquentar. Vai ver lá de onde ele tirou o dinheiro. É só verificar a época de contrato que ele me deu esse dinheiro e verificar de onde saiu o dinheiro. É só ir, pergunta pra ele juiz, promotor, quem quiser... É só convocar o rapaz. Convoca o rapaz pra vir aqui na Justiça e mostra. Convoca ele, traz aqui. [O sr. Emprestou, da onde o sr. Emprestou. Ta aqui seu juiz. Ta aqui]. Sacou da poupança dele.

Na semana seguinte, ainda dando seqüência a isso, na semana seguinte, o Darci veio pra mim e fala:
- Oh, Nilsinho. To conseguindo, fica tranqüilo que eu to conseguindo esse dinheiro.
- Não esquenta, eu já resolvi o meu problema, não esquenta, fica na tua que eu já resolvi o meu problema.
- Pô, eu ia te fazer um favor e você já resolveu o problema.
- Darci, pelo amor de Deus, fica na tua, já resolvi o meu problema, to tocando a minha vida e tudo bem.

E morreu aí. Morreu aí a conversa. Aí eu chego um dia de viagem de fora, no início de ano, e um amigo meu da imprensa me chamou e me disse: Nilson, prenderam aí o Norival Silva e a polícia parece que fez uma gravação e nesta gravação diz que o Darci pediu um dinheiro pra dar pra você.
Era só o que faltava. É o fim da picada.

Aí eu peguei o Darci e falei: Darci, vocês fazem as merdas de vocês e ainda, alem de fazer as merdas de vocês, vocês acabam ainda envolvendo a gente. Você se lembra lá atrás: Resolvi meu problema, você querendo resolver, mal sabia eu que estava querendo resolver o meu problema, fazendo um empréstimo pra mim, tentando catar o dinheiro dos outros, por aí?

Então eu quero dizer pra vocês assim, ó: Eu não faço parte desse grupo. Eu vou procurar descobrir se eu posso sair deste partido sem perder o meu mandato. Se eu for perder o meu mandato eu não vou sair, eu vou ficar, mas se eu não perder o mandato, se o juiz me conceder a oportunidade de eu sair do meio desse grupo, eu vou sair, vou me desfiliar desse partido. Porque eu estou cansado de ser ligado, de ser conectado com esse tipo de coisas, com essa confusão dos infernos que estão fazendo.

Eu comecei a minha vida pública em 1992. Eu tenho cinco eleições nas minhas costas, de forma honesta, clara, trabalhando de maneira transparente, pra quem quisesse ver e fiz isso e ando de cabeça erguida em qualquer lugar nessa cidade, porque trabalho direito de maneira honesta e daí abro o jornal e vejo o meu nome misturado, minha cara misturada com pessoas com quem não tenho parceria nenhuma, não tenho coisa nenhuma. Isso machuca, isso dói e acaba com a gente por dentro.

Vocês podem ter certeza de uma coisa. Eu ando nessa cidade e vou continuar andando de cabeça em pé porque eu tenho a minha cabeça e a minha consciência tranqüila e duro é que primeiro a gente tem que dar satisfação pra sociedade, dar satisfação pra imprensa, depois dar satisfação na Justiça porque eu ainda não fui convocado, o juiz deve estar me convocando hoje a tarde pra me explicar. Isso deveria acontecer primeiro. Explicar lá, ficar sabendo lá, tudo direitinho que eu to falando pra vocês aqui pra depois, se no caso é culpado, aí divulga. Primeiro se faz isso, pra depois se ir na Justiça. Eu não sei, está havendo inversão de valores nesse país. Primeiro joga a merda no ventilador e depois ele que se lasque, ele que se dane. A moral do cidadão hoje não se leva em conta. Isso é o fim do mundo, é o fim da picada.

Ontem eu recebi praticamente intimações de autoridades políticas pra mim participar desse segundo turno. Agora mais do que nunca. Eu já não ia. E o meu pessoal da Casa Amarela sabe, meus amigos que estão mais próximos de mim, dr. Renato Castro, que me conhece muito bem sabe quanto eu tenho ojeriza dessas coisas todas aí, sabem que eu não ia participar desse segundo turno, nem caindo canivete, nem que o papa viesse pedir pra mim eu iria participar desse segundo turno. Por duas razões. Primeiro: pro Carlito eu não posso traballhar porque é ilegal. Se eu trabalhar pra ele eu tenho a minha candidatura impugnada, inclusive. Pro Darci, não vou porque não faço parte deste grupo dele.

Qual é a alternativa: ficar aqui, cuidar da minha vida, cuidar das pessoas que me procuram na Casa Amarela, cuidar dos meus programas de radio e TV, de cabeça erguida e mostrando o meu trabalho por aqui. E a política enquanto tiverem todo mundo chafurdando nessa lama, que se lasquem todos, se virem, vão mostrar pra comunidade suas propostas e que ganhe quem tiver mais capacidade de mostrar. Eu quero ficar aqui na minha.