terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Doenças inflamatórias intestinais aumentam 200% em Joinville

A incidência de doenças inflamatórias intestinais em Joinville aumentou 200% entre 1999 e 2008, e as mulheres afetadas perdem mais qualidade de vida do que os homens. Estas são algumas das conclusões de duas recentes pesquisas científicas conduzidas pelo professor do curso de Medicina da Univille, Dr. Harry Kleinubing Jr, e que vão ser divulgadas em encontro nesta terça-feira (dia 8), na Piazza Itália, às 19h30, com profissionais da área da saúde da cidade. “São doenças que podem provocar complicações graves, que necessitam de tratamento e atenção médica especializada”, alerta o médico. Em Joinville, médicos e estudantes de medicina realizam um trabalho em conjunto para garantir qualidade de vida, tratamento adequado e informação aos pacientes e seus familiares.



Kleinubing realiza há quatro anos um projeto de extensão universitária, paralelo às pesquisas científicas, que promove um trabalho de orientação, informação e prevenção aos portadores e familiares, em reuniões realizadas no Hospital Regional Hans Dieter Schmidt, uma vez por mês. Cerca de dez acadêmicos de Medicina da Univille participam do projeto. “A falta de entendimento a respeito da doença e a ausência de tratamento que propicie a cura definitiva provocam muita confusão e pânico nos pacientes. Daí a importância de reuniões e palestras de orientação aos pacientes e familiares com equipe multidisciplinar, incluindo nutricionista, psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e médicos de diversas especialidades”, explica o médico, especialista em coloproctologia.


O projeto começou em 2006 com a criação de um ambulatório exclusivo para o tratamento aos pacientes, no Hospital São José. O trabalho, segundo Kleinubing, foi decisivo para a melhoria da assistência aos portadores das doenças inflamatórias intestinais pela Secretaria de Saúde de Joinville. “Hoje, essa assistência na cidade é comparável com o Primeiro Mundo”, enfatiza.


Epidemiologia
A pesquisa científica sobre a epidemiologia destas doenças foi realizada com 1.286 pacientes, sendo 445 casos de retocolite ulcerativa (RCU) e 228 casos de Doença de Crohn. Do total, 51,48% eram mulheres, 66,12 sofriam de RCU e 33,88%, de Doença de Crohn. Em 1999, foram registrados em Joinville 58 casos destas doenças. Em 2008, o número cresceu para 176 casos. Uma parcela do aumento no número de casos, segundo o Dr. Harry, pode estar associada à melhor disponibilidade dos métodos diagnósticos no serviço público em Joinville (exame de colonoscopia).


A pesquisa sobre a qualidade de vida dos pacientes foi realizada por meio de questionário com 70 pacientes hospitalizados e atendidos no ambulatório do Hospital São José , entre agosto de 2008 e agosto de 2009, e demonstrou que há um forte impacto biopsicossocial entre os portadores. “O objetivo foi permitir ao próprio paciente avaliar sua evolução e comparar antes e depois do tratamento”, explica o especialista.


As doenças

A Retocolite Ulcerativa e a Doença de Crohn são inflamações que acontecem no intestino e, apesar de alguns sintomas semelhantes entre as duas, como diarréia crônica, dor abdominal, anemia, perda de peso e de apetite, cada doença tem as suas peculiaridades.


A Retocolite Ulcerativa atinge, quase sempre, o reto, mas pode afetar todo o intestino grosso do indivíduo, fazendo com que a mucosa intestinal fique inflamada e com ulcerações. Já a Doença de Crohn é uma inflamação crônica do trato intestinal e que pode ir desde a boca até o ânus. A inflamação pode causar dor devido a estreitamentos ou perfurações no intestino, além de evacuações muito freqüentes. O diagnóstico da doença pode ser difícil, pois os sintomas são semelhantes aos de outros distúrbios intestinais.


O Brasil não sabe ao certo quantos são os portadores de doenças inflamatórias intestinais. Conforme dados da Associação Brasileira de Colite Ulcerativa e Doença de Crohn (ABCD), não existe no País ainda um levantamento epidemiológico sobre o número de portadores.


Para o Dr.Harry Kleinubing, essa deficiência de dados reais ocorre por diversos fatores. “O principal é a precariedade de dados estatísticos na rede de saúde” destaca o médico. Outro fator é que sintomas como diarréia e febre, por exemplo, geralmente são provocados por gastroenterites agudas, muito comuns no Brasil onde há um alto índice de doenças parasitárias e virais. A suspeita de Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa deve ser feita em pacientes com diarréia crônica, ou seja, quando dura mais de 30 dias. Estima-se que em Joinville, o número de portadores fique entre 500 e mil pessoas.

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