domingo, 13 de dezembro de 2009

Situação das crianças e adolescentes é alvo de pesquisa

Gisele Krama
giselekrama@gazetadejoinville.com.br

Estudo inédito em Joinville apresenta diferenças econômicas e sociais das crianças e adolescentes. Foram levantados dados sobre evasão escolar, renda, saúde e qualidade de vida. A iniciativa é do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente, com colaboração da Secretaria de Assistência Social. O estudo apontou as áreas mais pobres da cidade e com maior necessidade de políticas públicas direcionadas aos jovens.

Uma das principais informações do estudo é sobre o índice de evasão escolar. Dos 65,2 matriculados no ensino fundamental em 2008, aproximadamente 265 deixaram de estudar em escolas públicas. Além disto, o número de reprovados chega a quatro mil.

Nos bairros América, Atiradores, Bucarein e São Marcos não há casos de abandono escolar. Já o Jarivatuba, Jardim Paraíso, Morro do Meio e Comasa lideram o ranking de evasão. Só no Morro do Meio, onde há 2,06 mil alunos, há 21 casos de abandono. No Ulisses Guimarães são 1.376 crianças matriculadas e oito fora das escolas.

No Ensino Médio o abandono escolar é muito maior. O motivo: ingresso no mercado de trabalho. A surpresa da pesquisa foi o bairro Vila Nova. Dos 587 alunos matriculados, 90 deixaram de estudar. Isto representa mais de 15% dos estudantes.

No Paranaguamirim os números de evasão são semelhantes ao Vila Nova. Dos 749 adolescentes matriculados, 71 deixaram a escola para trabalhar.

No geral, Joinville tem 11.340 alunos matriculados no Ensino Médio, e destes, 664 desistiram. O percentual geral é de quase 6% dos adolescentes que deixam de estudar.

Tainá Sinsen Brizola, 12 anos, é uma destas adolescentes fora da escola. Ela começou a estudar com oito anos de idade e este ano teve que abandonar os estudos por causa de problemas com a matrícula. Os pais dela não conseguiram fazer a transferência para uma escola mais próxima de casa. A família mora na ocupação do Juquiá, no bairro UIisses Guimarães.

Para 2010 ela tem vaga garantida na Escola Municipal Prefeito Luiz Gomes, que fica mais de 30 minutos de sua casa, a pé. No entanto, mesmo com 12 anos, terá que cursar novamente a quarta série do Ensino Fundamental.

O pai de Tainá é analfabeto. Lauro Brizola, 32 anos, conta que chegou a Joinville quando tinha 13 anos, vindo do Paraná, com seus pais e irmãos para trabalhar. Pensou em estudar já mais velho, mas sofreu um acidente e perdeu parcialmente a visão. Agora, acha que não tem mais chances. Dos nove irmãos de Lauro, apenas dois sabem ler.

Pesquisa pioneira em Joinville

É a primeira vez que um estudo desta proporção é feito em Joinville. Já houve outras tentativas, mas nenhuma se consolidou. Esta pesquisa é elaborada em sete cadernos. São três partes do levantamento: a primeira é quantitativa (que já foi realizada), a segunda é qualitativa (com entrevistas) e a terceira é um parecer de um pesquisador sobre os dados.

Uma das maiores dificuldades encontradas pelos pesquisadores é a desorganização das entidades. Foram buscadas fontes de dados governamentais e outras instituições. Mas a maioria não tinha dados compilados.

Outro empecilho é que os dados governamentais não estão cruzados. As informações da Secretaria Municipal de Saúde não são adicionadas com as da Secretaria Municipal de Educação, por exemplo.

Conforme o assistente social Valmir Polli, diretor executivo do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente, sempre houve vontade de fazer um estudo desta proporção. Depois de terminar o diagnóstico, ele vai sentar com cada secretário municipal para ver o que pode ser feito nas áreas. “Isso é um guia para o prefeito”, diz.

Valmir diz que muitos dados surpreenderam como gravidez na adolescência. Já em outras áreas, nem havia informações. Ele está ansioso para ver o resultado do trabalho que começou este ano e deve terminar em agosto de 2010.

A doutora Josiane Rose Petry Veronese, pesquisadora do Núcleo de Estudos Jurídicos e Sociais da Criança e do Adolescente, da Universidade Federal de Santa Catarina, será responsável por analisar os dados e criar diretrizes para o município no cuidado com as crianças.

Os recursos para a realização do Diagnóstico Social da Criança e do Adolescente veio do Fundo da Infância e Adolescência. Esse dinheiro é captado a partir do Imposto de Renda de Pessoas Físicas e Jurídicas. Ao todo, serão gastos R$ 200 mil. A empresa responsável pelo estudo é a Painel Instituto de Pesquisa, de Joinville, escolhida por licitação.

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