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Depois de quase um ano sem ter os repasses do Governo Federal pelos transplantes de rim, o Hospital São José volta a receber os recursos. O credenciamento para transplante não foi renovado em 2008 porque o hospital havia perdido o alvará sanitário. Em 2009 foram realizados 87 transplantes de rim, um transplante conjugado de rim e pâncreas e o primeiro implante de fígado da cidade. Somente o transplante fígado tinha consentimento do Ministério da Saúde.
Neste período, o hospital deixou de receber quase R$ 2 milhões. A direção do São José vai tentar recuperar pelo menos metade do dinheiro. Os implantes de rins são feitos em parceria com a Fundação Pró-Rim de Joinville.
Doação de órgãos salva vidas diariamente
Era uma manhã como outra qualquer, com sol e um pouco frio em Joinville, comum para aquela época do ano. No entanto, o dia de quase inverno não seria o mesmo para José Sapelli. A partir daquele momento haveria um rompimento em sua vida: ele não dependeria mais de uma máquina de hemodiálise pelos próximos 20 anos.
A cirurgia de Sapelli começou às 7h da manhã de 19 de junho. O procedimento duraria sete horas.
O cheiro da cauterização do corte cirúrgico era sentido em toda a sala. A pele humana era queimada para não ter possibilidade de hemorragia ou infecção hospitalar. O paciente chamado José receberia um órgão novo no corpo, um rim doado por sua irmã.
Para que a cirurgia fosse possível, os médicos reduziram a imunidade do homem. “É necessário deixar o organismo sem resistência para que não rejeite o órgão”, explica a enfermeira Liliani Azevedo, responsável pelo setor de transplantes do Hospital São José.
Eram 10 horas quando o rim foi trazido até a sala de cirurgia. O órgão seria colocado sem que se retirasse o antigo do paciente. Mas José sabe que este novo órgão, chamado de enxerto, deve durar no máximo 20 anos e depois ele terá que voltar ao pesadelo de ter sua vida amarrada a uma máquina de hemodiálise. Momentos antes da cirurgia, ele repousava na maca enquanto colocava sua vida nas mãos do cirurgião.
Rejeição do órgão
O rim e o fígado são os únicos órgãos que aceitam reimplante (outro transplante). Já nos casos de coração, pulmão e outros órgãos, a rejeição do órgão ou término da vida útil é seguida da morte do paciente.
Se um órgão como o coração for rejeitado no momento da cirurgia, a equipe médica tem a possibilidade de acionar a Central de Captação de Órgãos, em Florianópolis, que rastreará em todo o estado um órgão para substituir o que não funciona. Mas se o coração não for encontrado, a Central de Captação em Brasília fará a busca em todo o país. Esse procedimento dura alguns minutos.
Mesmo assim, se não for encontrado o órgão compatível enquanto o paciente ainda estiver na sala de cirurgia, a morte será um caminho inevitável. Cada pessoa que vai fazer um transplante está ciente disto quando aceita fazer a operação.
Ilegalidades na doação
O transplante pelo qual passou José Sapelli é chamado de inter-vivos, ou seja, quando um doador vivo doa de livre e espontânea vontade para um paciente definido. Em alguns casos, o doador pode exigir benefícios pela entrega do órgão. Neste caso, a “doação” do órgão é ilegal e considerada tráfico.
Para minimizar a venda de órgãos e tecidos humanos, a legislação brasileira só permite que os órgãos sejam retirados de doadores mortos, ou nos inter-vivos, quando o doador é parente de primeiro e segundo graus (pai, mãe, irmãos, tios).
Mesmo com a lei, muitos familiares cobram favores e dinheiro para a retirada de órgãos.
Passos para a autorização de doação de órgão
No Brasil a doação legalizada de múltiplos órgãos é feita quando há constatação de morte cerebral do paciente. Depois de feito o relatório, a notícia da morte é transmitida à família e criado um protocolo, conforme normas do Ministério da Saúde, para verificar a aptidão do paciente.
Quando o resultado estiver pronto, é feito um convite aos parentes para que autorizem a doação de órgãos. Cada paciente pode doar oito órgãos maciços (coração, fígado, rim, pulmão), mais fragmentos de ossos e tecidos (pele), que totalizam 80 doações por pessoa.
A constituição diz que as pessoas sem identificação não poderão ser doadoras de órgãos por não ter um representante legal. A retirada sem consentimento é considerada tráfico.
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