quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Haitianos passam noite nas ruas entre corpos e escombros

Dezenas de milhares de haitianos estão passando a segunda noite seguida nas ruas, após o forte terremoto da tarde de terça-feira que devastou a capital do país, Porto Príncipe, e que pode ter matado dezenas de milhares de pessoas.

Muitos moradores da capital, desabrigados ou com medo de novos tremores, se agrupavam em lugares abertos para passar a noite, muitos deles próximos a escombros e corpos.

De acordo com Andrew Gallacher, enviado especial da BBC a Porto Príncipe, a situação na cidade é de desespero, sem sinais de um esforço de resgate coordenado, com suprimentos médicos escassos e com ajuda humanitária apenas começando a chegar.

Gallagher relata ter visto pessoas, entre elas crianças, dormindo ao lado de corpos em decomposição durante uma visita a um hospital da cidade.

“Era um cenário de devastação. O hospital inteiro estava cheio de corpos, alguns cobertos, outros não. Líquidos escorriam para a rua. O cheiro era terrível, porque os corpos já estão começando a se decompor”, conta.

Outro repórter da BBC em Porto Príncipe, Nick Davies, afirma que o que mais chama a atenção na cidade, ainda mais que os escombros e a poeira, é a quantidade de corpos sob cobertores por todos os lados.

“Quando você anda pela cidade, ou passa de carro, pode ver esses corpos, com pessoas passando próximas, muitas delas confusas, completamente tomadas pelo que aconteceu a este país, o que aconteceu a esta cidade”, relata Davies.

Ele compara o ambiente na cidade a um cenário de filme de terror. “O barulho de pessoas chorando, de pessoas rezando, e o som de coros religiosos que podem ser ouvidos pelo ar, tornam a situação ainda mais surreal”, diz.


Busca por sobreviventes

A busca por sobreviventes sob os escombros entrou madrugada adentro, auxiliada pela chegada de ajuda material e de equipes de resgate enviadas por vários países.

Testemunhas afirmam que muitos tentavam escavar os escombros com as mãos ou com ferramentas simples para tentar encontrar vítimas que possam estar soterradas.

O sismo deixou um cenário de devastação em Porto Príncipe, destruindo o palácio presidencial, a sede da ONU no país e outros prédios importantes.

A Cruz Vermelha Internacional estima que até 3 milhões de pessoas tenham sido afetadas pelo terremoto.

O presidente René Preval, que escapou ileso após o desabamento do palácio presidencial, disse não ter uma estimativa oficial do número de mortos, mas que ouviu que eles podem chegar a 50 mil.

O terremoto de magnitude 7 na escala Richter, o pior no país em dois séculos, ocorreu às 16h53 de terça-feira (19h53 de Brasília), com epicentro a apenas 15 quilômetros da capital.

Segundo Roger Searle, professor do Departamento de Ciências Geológicas da Universidade de Durham, na Grã-Bretanha, a energia liberada pelo tremor foi equivalente à explosão de meio milhão de toneladas de dinamite.

Ajuda

Os primeiros aviões com ajuda, provenientes da Venezuela, da China e dos Estados Unidos, começaram a desembarcar no aeroporto de Porto Príncipe na noite desta quarta-feira.

Equipes de outros países como Brasil, Grã-Bretanha, França, Dinamarca, Cuba, México, entre outros, devem chegar à capital nesta quinta-feira.

Soldados da força de paz da ONU, que já tinham um papel-chave em manter a ordem pública no Haiti mesmo antes do terremoto, têm sido deslocados para controlar focos de intranquilidade, em meio a relatos de saques.

A organização não governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF) relatou um “fluxo enorme” de pessoas feridas, muitas delas em estado grave, a clínicas improvisadas.

Segundo o porta-voz da MSF no Canadá, Paul McPhun, pacientes com “traumas graves, ferimentos nas cabeças, membros esmagados” têm buscado ajuda nas estruturas provisórias montadas pela organização.

Apesar disso, ele disse que os médicos da ONG têm apenas a capacidade de oferecer aos pacientes cuidado médico básico. Uma das clínicas de emergência da MSF desmoronou com o tremor e duas outras foram gravemente danificadas e não podem ser usadas.

Hans van Dillen, membro da MSF em Porto Príncipe, relatou que há “centenas de milhares de pessoas dormindo nas ruas porque não têm para onde ir”.

“Vemos fraturas expostas, ferimentos na cabeça”, disse ele em um relato publicado no site da MSF. “O problema é que não podemos encaminhar as pessoas para o atendimento médico adequado neste momento”, afirmou.

Agência BBC

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