Postado por: Rogério Giessel
Ao longo dos últimos 40 anos, mais de 400 pessoas morreram em Santa Catarina vítimas de desabamentos, deslizamentos de terra e inundações decorrentes de fenômenos climáticos. Os desastres naturais, no período citado, desabrigaram ou desalojaram cerca de 600 mil pessoas no Estado e causaram danos econômicos inestimáveis.
Para Júlio César Wasserman, geógrafo e professor do Departamento de Análise Geoambiental da Universidade Federal Fluminense (UFF), os impactos da atual tragédia em Santa Catarina poderiam ter sido minimizados, caso o poder público adotasse medidas preventivas, algumas delas de baixo custo. "Deixar a situação chegar a esse nível é culpa do Estado. É impossível reduzir as mortes a zero diante de um evento desse porte, mas dava para ter reduzido muito o impacto da tragédia. Daqui para frente é necessário priorizar as verbas públicas para evitar tragédias como essa".
Uma das medidas mais importantes é impedir a ocupação do solo de áreas próxima a morros, especialmente quando houve desmatamento - a retirada da vegetação original reduz a proteção natural contra deslocamentos de terra. "Essas áreas são ocupadas principalmente por populações carentes, que não tem outro lugar pra ir. Cabe ao Estado impedir que locais de risco sejam ocupados e prestar a devida assistência às comunidades carentes. Isso não foi feito em Santa Catarina", afirma Wasserman.
"Em algumas cidades do Rio de Janeiro, como Petrópolis, por exemplo, desastres semelhantes ao de Santa Catarina deixaram 70, 80 mortos na década passada. Desde então, o trabalho preventivo começou a ser priorizado, e as mortes diminuíram nas últimas vezes que choveu muito", aponta.
O professor usa também como exemplo a Defesa Civil de Teresópolis, que passou a orientar os moradores de áreas de risco a, nos dias de chuva intensa, colocar uma garrafa pet fora de casa para medir a quantidade de água. Ou seja, a criarem um pequeno pluviômetro. Quando a água atinge o nível de risco determinado pela Defesa Civil, o próprio morador sabe que deve deixar sua residência e procurar abrigo em outro lugar.
"Em Niterói, fizemos um estudo geotécnico nas regiões de risco para avaliar a declividade do terreno e demarcar as áreas de risco, que não deveriam ser ocupadas. No Rio de Janeiro existe um sistema monitoramento em que estações meteorológicas instaladas em regiões de encosta avaliam o risco em determinadas áreas e emitem via rádio alertas à Defesa Civil", conta.
Para Wasserman, é necessário que, no Brasil, o poder público e a população comecem a se preparar para eventos climáticos anômalos. "Temos de começar a nos preparar para as catástrofes. Embora tenha sido uma situação bem diferente, o que ocorreu com no sudeste asiático com o tsunami deveria ter servido de alerta para o Brasil se prevenir. Tanto lá, como cá, existe uma população pobre e extremamente vulnerável a esses tipos de eventos", afirma.
Fonte: UOL
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