Postado por: Rogério Giessel
Para a antropóloga da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Yvonne Maggie, a reserva de vagas para negros nas universidades públicas ou em qualquer outra instituição é uma medida errônea e perigosa porque parte do princípio da crença em raças, o que segundo ela é inexistente.
“As cotas para negros carregam em si o veneno em lugar de solução porque para diminuir o racismo, elas constituem, fundam, a idéia de raça, dividindo os estudantes por força de lei em negros e brancos para assegurar direitos”, explica.
Maggie é uma das intelectuais que em abril entregaram uma carta ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo o fim da política de cotas. Ela aponta que essa divisão contribui para a segregação. “As pessoas dizem que a sociedade brasileira já é dividida, mas ela não é dividida legalmente em negros e brancos, as leis são universais para todos. As políticas de cotas fazem essa segregação”, defende.
A pesquisadora alerta que em episódios anteriores em que o Estado “obrigou” as pessoas a se definirem de acordo uma categoria, os resultados foram negativos. “ Todas as vezes em que o Estado se meteu a definir a raça das pessoas produziu muito mais dor do que alívio, a começar pelo holocausto”, argumenta.
Maggie acredita que os resultados desse tipo de intervenção podem ser “a morte e a carnificina” quando um dos grupos usa essa categorização como uma arma para defender seus direitos “Foi assim com o nazismo, foi assim em Ruanda”, cita.
Para o coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade de Brasília, Nelson Inocêncio, os movimentos e indivíduos que são contrários à política de cotas estão “alienados” ao processo. “Você começou com um movimento de uma ou outra universidade implantando o sistema e hoje são várias, ou seja, a tendência é o crescimento. Quem está refratário, não só está contra como também não está fazendo a leitura do processo. De certa forma, está alienado porque ignora algo que está se adensando de maneira efetiva”, defende.
Para Inocêncio, um país não pode defender a democracia enquanto não enfrenta a questão do racismo. “Não adianta se falar em democracia e não perceber que existe um contingente de quase a metade da população que está excluído de um processo cidadão. É paradoxal falar de democracia sem combater o racismo”, defende.
Agência Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário