Uma semana e duas crianças agredidas em escolas públicas de Joinville. Cada vez mais o ambiente com propósito de alfabetizar e educar abre espaço para violência entre alunos e estresse de profissionais, que levam problemas pessoais para sala de aula e descontando nos pequenos.
Na terça-feira, 26 de outubro, a mãe de João (nome fictício), de 9 anos, registrou Boletim de Ocorrência (BO) na Delegacia de Proteção à Mulher, à Criança e ao Adolescente. De acordo com ela, seu filho foi agredido por cinco meninos na Escola Municipal Professora Elizabeth Von Dreifuss, no bairro Morro do Meio, durante uma aula de educação física. A criança, portadora de necessidades especiais, ficou internada durante três dias no Hospital Materno Infantil Dr. Jeser Amarante Faria.
A mãe de João relata que o filho fixa os olhos para um ponto e permanece por alguns minutos. Isso teria levado os outros meninos a bater nele. João sofreu convulsões e vômitos.
“Ele chegou arrastado pela irmã em casa. Estava pálido, com lábios arrochados e vomitando. Chamei a polícia e falei o que tinha acontecido. Depois levaram direto para o hospital”, narra a mãe. João não quer mais ir à escola, o que é comum em vítimas de bullying – termo em inglês para descrever situação de violência física ou psicológica em escolas.
A mãe do garoto alega ainda que houve negligência na instituição porque o filho tem problema mental, além de cardíaco e renal. Segundo ela, ninguém da instituição a procurou para falar sobre o caso e nem levaram a criança para casa após a agressão. Além disso, segundo ela, a orientadora foi procurada na escola e mandou o aluno enxugar as lágrimas e parar de chorar.
Secretaria de Educação Municipal
Contrariando a mãe de João, a Secretaria Municipal de Educação, através de nota enviada à imprensa, diz que a supervisora atendeu a criança. “A secretaria esteve na escola para conversar com todos os
envolvidos. Ainda estamos investigando para saber que tipo de ação será tomada”, defende nota da secretaria.
Segunda vez em um ano
Violência não é novidade na escola Professora Elizabeth Von Dreifuss. No primeiro semestre desse ano, uma mãe também registrou BO, mas contra a diretora e uma supervisora da instituição que teriam agredido seu filho. A criança também não queria mais ir para o colégio.
Outro caso em uma semana
Um dia depois a agressão de João, na quarta-feira, 27 de outubro, uma mãe registrou Boletim de Ocorrência contra uma professora da rede estadual de educação de Joinville. Conforme ela, o menino, de oito anos, esqueceu o caderno em casa e pegou uma folha emprestada da amiga para escrever, mas a professora pegou a folha, pisoteou e depois esfregou no rosto da criança. Além disso, queria fazer o garoto comer o papel.
De acordo com a mãe, a professora confessou que teria esfregado o papel no aluno porque ele estava brincando em sala.
Famílias mais distantes e professores sem ajuda
O que leva caso de violência escolar ser mais comum a cada dia? Para a psicóloga Roberta Balsini, que atua nas escolas com o projeto anti-bullying e é integrante do programa “Cuidando de quem Cuida”, muitas famílias vivem hoje um momento de estresse na busca por melhores condições financeiras, ausência de pais e mãe (para dar atenção aos filhos) e falta de limites. Além disso, casos de agressão também são reflexo da falta de cuidado com o professor.
“A matriz de identidade, base para o crescimento saudável de uma criança, está cada vez mais preocupante,causando a falta de controle dos alunos nas escolas.Por isso que é necessário a formação de especialistas atuando no projeto contra a violência escolar.As escolas não podem mais jogar essa responsabilidade para os professores que não estão preparados para lidar com distúrbio de comportamento,agressividade e falta de limites”, explica a psicóloga.
De acordo com Roberta, um ser humano adulto responsável em criar, educar e dar modelo afetivo precisa de espaço para lidar com suas dores e frustrações, caso contrário será mais comum profissional (professor) perdendo o controle.
Cuidando de quem Cuida
O programa “Cuidando de quem Cuida” é um projeto destinado a professores. Os educadores são auxiliados por psicólogos. O projeto não existe mais na rede de ensino público da cidade, conforme explica Roberta Balsini: “A rede municipal e estadual de Joinville contava com o programa até o ano de 2009 que dava a oportunidade a todos os professores de terem um espaço para serem cuidados. Perdemos o programa, que trouxe grandes resultados, como diminuição de afastamentos por fatores emocionais e nenhum caso de agressão de professores com alunos. A ética do cuidar hoje é o caminho da prevenção de casos como esses que a cada dia nos surpreendem mais”.
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