terça-feira, 29 de março de 2011

Lama volta a causar medo em moradores do Costa e Silva

fotos: Kamel Filho

RENATO CÉSAR RIBEIRO
renato@gazetadejoinville.com.br

Certas pessoas são obrigadas a conviver com o medo diariamente. É normal que isso aconteça com profissionais como policiais e bombeiros. Porém, quando o medo passa a fazer parte de seu dia-a-dia em sua casa, transpõe qualquer normalidade. É isso que está acontecendo com a técnica de enfermagem Luzia Bertotti Maes, 30 anos, suas filhas e seu marido, moradores da rua Souza Lobo, uma lateral da Ruy Barbosa, no bairro Costa e Silva.

No caso de Luzia, um paredão de terra de 10 metros de altura com 30 metros de comprimento ameaça desbancar em sua casa comprada há sete anos. Com as chuvas de 20 de janeiro de 2011, a massa composta por um terreno arenoso caiu trazendo árvores e mato diminuindo para menos de 1 metro de distância da construção o que antes se encontrava a 10 metros. Condição essa posta em janeiro de 2009 após os desabamentos de novembro de 2008.

Naquela ocasião, a prefeitura recém dominada pelo atual prefeito Carlito Merss (PT) apenas operacionalizou o que havia sido organizado pelo antigo ocupante do cargo. Foi retirada a quantidade de terra com cerca de 400 "carradas", ou seja, o volume de material encheu ao redor de 400 caminhões. Porém, nada foi feito para evitar novos desabamentos. De acordo com Luzia, a máquina passou oito dias trabalhando para terminar o serviço.

Com a retirada do material, o morro ficou "pelado" e um murro de contenção de arrimo deveria ter sido construído. Como o total da obra ultrapassa os R$ 100 mil, Luzia e seu marido, o desenhista têxtil Sidnei Marcelo Maes, 41 anos, não tem condições financeiras para pagar.

A moradora diz que o terreno desbarrancando é da prefeitura e ela deveria realizar essa solução. Existe um projeto da Azimute Consultoria e Projetos de Engenharia para resolver a situação, mas Luzia não consegue tirá-lo do papel.

Ela procurou a Defesa Civil, que confirmou o risco constante, segundo o coordenador Márnio Luiz Pereira. "Falta a prefeitura entrar com os recursos porque nós não temos como arcar com esse custo", diz a técnica de enfermagem. Segundo ela, são dez terrenos na cidade nessa condição. Existem projetos para quatro, mas nenhum teria sido realizado até o momento.

Existe alto risco da lama chegar a entrar na cozinha

Marido tenta retirar lama com carrinho de mão

Como a prefeitura não tem feito nada para resolver o problema, Sidnei tem tirado manualmente com um carrinho de mão a lama que desce. Ele faz esse serviço nos finais de semana quando lhe sobra um tempo. Além disso, o muro quebrado em 2009 pelo poder público municipal para tirar a terra não foi reconstruído por ele. A própria família teve de arcar com os custos da murada.

"Dentro desse mato vem muita água. A gente já viu tanta avalanche... Estamos aprisionados dentro da própria casa", suspira. Uma de suas filhas, Emily Maes, 12 anos, lembra que era "só lama pura que entrava dentro de casa". Até hoje, Luzia chama-as para dormir na sala, que fica longe do monte de terra, quando chove, com medo de que algo mais grave aconteça. Com a experiência já adquirida, ela avalia que serão necessários 300 "carradas" para retirar o que caiu em janeiro de 2011.

No tempo compreendido entre os dois deslizamentos, Luzia entrou em contato com a prefeitura várias vezes para que o muro de contenção fosse construído, mas não conseguiu. Sidnei tentou até fazer um muro com madeiras, mas não adiantou nada. Também foi tentado colocar grossos canos, mas eles entupiram.

"Estamos largados às traças. O bairro está parado. Não temos nem boca de lobo na rua. A lama estraga e entope a rua", denuncia. Segundo ela, o problema é que o antigo morador abaixou demais o terreno. "Isso é tudo que temos, mas não podemos parar a vida", relata Luzia. Nesse tempo, ela procurou a Unidade de Patrimônio através de Adilson Girardi e também o secretário regional do Costa e Silva, Pedro Campos, além da própria Secretaria de Infraestrutura (Seinfra).

Quando a Gazeta de Joinville entrou em contato com a Unidade de Patrimônio, a Secretaria Regional do Costa e Silva e a Seinfra, não havia ninguém trabalhando em plena tarde de terça-feira (29).

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