quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Com "projeto de vida em Joinville", Espiga se firma como auxiliar de Bial
Texto: Rafael Alonso, assessor de imprensa
Após 20 anos como atleta profissional de basquete, Flávio Aurélio dos Santos Soares, o Espiga, 37 anos, resolveu pendurar o tênis. Há cinco temporadas em Joinville, o armador conquistou inúmeros títulos (cinco estaduais, três sul-brasileiros, entre outros) e foi peça decisiva na retomada da modalidade na cidade. Plenamente integrado ao projeto, Espiga se prepara para ser o braço direito do técnico Alberto Bial. Além da missão de atuar como auxiliar técnico da equipe adulta, ele já comanda as equipes infantil e mirim das categorias de base.
Em entrevista ao site oficial do Basquete de Joinville, Espiga garante que chegou ao limite, principalmente físico, e que não teria mais motivação para treinar. “Eu poderia treinar o quanto quisesse que não iria mais evoluir”, disse. Ele revela que Bial havia feito o convite de jogar mais uma temporada, mas, aproveitando-se da amizade que mantém com o amigo e colega de trabalho, explicou suas razões e teve a decisão respeitada, sem questionamentos.
Adaptado à cidade, ele lembra que teve receio de se transferir para o Joinville. À época, Espiga enfrentava problemas pessoais complicados. Passados cinco anos, ele diz ter um “projeto de vida em Joinville”, mas ao mesmo tempo evita projeções a longo prazo. Abaixo, a entrevista completa com o ex-jogador.
Como você chegou a essa decisão? O que mais pesou?
Achei que era o momento. Penso nisso desde os 30 anos. Nos últimos anos avaliei melhor a minha situação. Eu não tinha mais condição de evoluir. Cheguei ao limite, principalmente físico. Não tinha mais motivação pra treinar, pra buscar aquele algo mais.
Foi uma decisão difícil ou já estava amadurecida na sua cabeça?
Eu já vinha amadurecendo a ideia há algum tempo, especialmente de como seria esse momento. Não foi nada traumático. Foi uma decisão equilibrada e saudável.
É preciso saber a hora de parar?
Sim. Mas é difícil. Por isso me sinto um privilegiado. Todo mundo quando para sente falta de estar inserido no meio. Alguns não conseguem, e aí não sabem o que fazer da vida, já que não se formaram e não tem capacitação. O jeito, nesse caso, é trabalhar com o que aparece.
O Bial te convidou para jogar mais uma temporada?
Sim. Ele queria que eu jogasse mais uma temporada. Ele sempre confiou em mim e acreditava que eu poderia ajudar a equipe. O Bial sempre me apoiou em tudo e sempre me deixou à vontade em conversas informais. A decisão foi só minha. Não tive a influência de ninguém. Mesmo assim, o convite me deixou orgulhoso.
Você parou para se dedicar exclusivamente à nova função?
Também. Mas porque eu não estava disposto a passar pelo o que eles (atletas) passam todo dia. Isso não me deixaria melhor. Eu poderia treinar o quanto quisesse que não iria evoluir. É uma questão de momento e oportunidade. Só tecnicamente, ninguém joga. Se eu me matasse nos treinos, estaria apto a jogar uns cinco ou 10 minutos.
A divisão de tarefas (auxiliar e jogador) te atrapalhou na temporada passada?
Não. Joguei mal e pronto. Não tem desculpa.
Qual será a sua principal missão como auxiliar do Bial?
Tentar auxiliar os jogadores de uma forma geral: técnica individual, estratégias coletivas e passar a maior quantidade de informação para o Bial tomar as decisões com calma.
Você pensa em algum jogo de despedida?
Nunca pensei. Mas estou aberto, especialmente se for pra ajudar alguém. Prefiro ficar com a lembrança dos jogos valendo, da competição. Nunca gostei de jogar amistoso.
Joinville é, definitivamente, a sua casa?
Nada é definitivo. Joinville é meu projeto de vida. Mas sou muito novo pra usar essa palavra. Trabalho com o pé no chão, sem fazer planos. Se um dia for valorizado e surgir algo especial, posso sair. Caso contrário, fico 20 anos como auxiliar e técnico da base.
É verdade que você relutou em se mudar para Joinville? Do que você tinha receio?
Estava num lugar em que esperava ficar mais tempo (Minas). Tinha acabado de perder meu pai e minha mãe estava doente. Como meu clube anterior demorou a se pronunciar, aceitei a proposta do Joinvile, até porque não queria entrar em leilão.
Como você vê o Espiga daqui a 10 anos? Vai ser treinador mesmo?
Sim. Mas como disse antes, fazendo a coisa com calma e sem antecipar as etapas.
Dá para eleger a maior alegria da carreira?
A medalha de bronze da Universíade, na Sicília, Itália, contra a Itália, em 1997.
E a maior decepção?
Algumas atitudes intempestivas.
Você se aposenta com alguma frustração?
Não ter jogado fora do Brasil. Quando moleque, poderia ter ido aos Estados Unidos.
Sempre se imaginou jogador de basquete?
Não. Tudo começou com meu irmão. Aí me disseram que eu tinha talento. Quando juvenil, me coloquei à prova indo jogar em São Paulo. As coisas deram certo e minha carreira deslanchou.
Qual o seu ídolo?
Quando pequeno, admirava o Marquinhos e o Nilo.
Quais os melhores jogadores com quem você já jogou?
Eu elegeria três, em fases distintas. O Toca, na base do Fluminense; o Rock Smith, no Suzano; e o Marcelinho, no Fluminense.
Qual técnico marcou a sua carreira?
Cada um, ao seu estilo, contribuiu de alguma forma.
Informações pessoais:
Nome: Flávio Aurélio dos Santos Soares
Apelido: Espiga
Idade: 37 anos
Times que jogou: Uberlândia, Fluminense, Vasco, Mogi, Suzano, Corinthians, Minas, Jequiá, Tijuca, Joinville.
Principais títulos: carioca (Vasco); vice-brasileiro (Vasco e Uberlândia); liga sul-americana (Vasco); jogos abertos (Mogi); cinco estaduais, três sul-brasileiro e dois jasc (Joinville).
Passagem pela Seleção Brasileira: medalha de bronze da Universíade, em 1997, na Itália.
Que função vai ocupar: auxiliar técnico de Alberto Bial e técnico das categorias de base.
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